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26/06/2012

Mostra Brasileira de Dança - juanguimaraes.com

REVERBERANDO:  

Confira abaixo a nota que saiu no "Diário de Pernambuco" por Tatiana Meira, sobre as questões levantadas aqui sobre o descaso dos festivais com os artistas locais:

 
Veja também no link abaixo uma nota publicada por Pedro Neves no Blog Foco, com mais de 45 comentários da classe e público sobre as questões levantadas nessa postagem: Blog Foco - Folha PE


























MINHA POSTAGEM:

10 anos de mostra e um belo slogan. “Todos os ritmos. Um só movimento” 
por Juan Guimarães.

Lá vem a Mostra Brasileira de Dança! 

Mais um festival entre tantos outros na cidade do meu Recife.
Mais um episódio que me fez refletir e querer me posicionar com relação ao descaso e falta de respeito dos festivais e órgãos públicos com os artistas locais.
É bem triste e lamentável, mas esse capítulo particular, na nossa cidade não é novidade para ninguém!
Uma forma de me retratar e me desculpar com os que esperavam a minha presença no festival já que o espetáculo tinha sido divulgado no site da MBD e nas redes sociais. 
É também uma oportunidade de trazer questionamento, principalmente para os artistas.

Atualmente, moro no Rio de Janeiro, mas não deixei de ser Pernambucano, e sinto o dever de promover a mudança de alguma forma. Como artista, diante de situações como essa, acho que devo falar e levantar questões para se ter um mínimo de reflexão com relação ao que é fazer arte na nossa cidade.

Em 2009, quando estava em SP apresentando meu solo Por um fio em lã, no SESC Pompéia, fui convidado para participar da noite de trabalhos curtos e profissionais da Mostra Brasileira de Dança no Teatro Sta. Isabel, com um trecho do espetáculo. A apresentação foi fechada por telefone pela coordenadora geral do projeto sem passar por nenhum tipo de edital ou seleção pública.

Esse ano, veio a vontade de me fazer presente na cena Pernambucana de alguma forma, por estar um ano longe e não querer me distanciar tanto do trabalho já desenvolvido em Recife.
Qualquer pessoa tem acesso ao edital e vai saber que pelo projeto não existe a possibilidade de se ganhar dinheiro. O objetivo era unicamente de participar da MBD pelos motivos anteriores.

Pois bem, entrei em contato com a coordenadora geral da mostra que esclareceu que eu poderia mandar o projeto e participar desta edição, que não teria problema algum por eu ter participado há três anos com um trecho do meu solo. E assim o fiz.
Enviei o projeto, fui selecionado no edital e o meu nome saiu na lista de espetáculos Pernambucanos no SITE do evento e em redes sociais.

Alguns dias depois do resultado que acredito ter sido por volta do dia 10 de maio, eu enviei um e-mail para a produção perguntando sobre datas e outras questões de organização para a participação.
(E-mail não foi respondido até hoje)

Até chegar o momento em que achei estranho a aproximação do evento e ninguém da produção ter entrado em contato comigo.
Procurei a produtora geral do evento por telefone, que me informou que meu espetáculo não tinha ficado na grade por falta de verba e patrocínios que não tinham sido fechados.
Ora, era só me informar, responder meu e-mail ou ligar, já que eu tinha sido selecionado e esperava uma posição. Simples.

Eu estava produzindo o trabalho há 20 dias.
Contrato de profissionais, gastos com pré produção e salas de ensaio.
Se eu não tivesse ido procurar informações, eu não saberia que não iria participar da mostra até hoje.

Em seguida a coordenadora geral do projeto me ligou se desculpando e assumindo o erro da produção do festival e disse que o meu solo foi o único da grade dos trabalhos selecionados de Pernambuco que foi cortado por não ter verba para trazer o espetáculo do ainda Pernambucano, mas residente no Rio de Janeiro.

E até hoje não recebi nenhum e-mail ou ligação me informando dessa questão, para que eu tomasse as minhas decisões com relação a minha produção, que continuou por não ter uma posição simples, clara e honesta.

Ficou de me dar um retorno para organizar a minha participação no evento, e inclusive perguntou da minha disponibilidade em algumas datas.
Eu fiquei no aguardo e até hoje (23 dias depois) não me retornaram a ligação e muito menos responderam meu e-mail. (enviado há 43 dias)


As pessoas que produzem os festivais em Recife infelizmente, muitas vezes tratam dessa forma os artistas locais. O meu objetivo aqui é de lembrar aos artistas de Recife - principalmente na dança -, que nós temos que ser respeitados e bem tratados em qualquer lugar e principalmente na nossa cidade. Que não estamos pedindo favor a ninguém.
Nós fazemos o nosso trabalho, colocamos os nossos projetos nos editais e mesmo assim o descaso é algo predominante nas produções.

A mudança no quadro das artes cênicas acontece sim, mas é muito lenta.
Cabe a nós fazer algo, nos colocar e questionar os produtores dos eventos, órgãos públicos e os que ocupam os cargos nos setores de cultura em nossa cidade.

Eu não tenho problema algum em falar e questionar.
Se pra sobreviver for necessário ficar calado pra ter o meu seguro, estou fora.
Se no mínimo eu causar algum tipo de reflexão com relação a isso tudo principalmente nos artistas, já me vale muita coisa.

Mendigar para participar de festivais e implorar por espaço, se submetendo para ter um mínimo de visibilidade, não é o caminho!

- Festivais que atrasam pagamentos, como o FIG que eu passei mais de um ano para receber o cachê.

- A desvalorização dos artistas locais em festivais como o Festival Internacional de Dança do Recife, que tem o discurso de promover o intercâmbio entre os artistas nacionais, internacionais e locais participantes do evento, só que não contempla quase nenhum grupo ou artista local dentro da programação, e quando coloca algum em sua grade, a maioria fica em palcos descentralizados.

- Os editais de fomento a cultura por exemplo, o Funcultura esse ano aprovou na dança 21 projetos totalizando R$ 1.681.615,88
Quando no nosso ultimo Carnaval multi-cultural foi gasto mais de um milhão só com os camarotes da prefeitura. Sem falar nos valores absurdos que são destinados só para pagar shows de artistas nacionais e internacionais.

- A falta de apoio e estrutura na manutenção das Cias e artistas independentes e tantas outras questões e descasos.

Não se trata apenas de uma participação num festival em Recife.
O conto divertido e verídico acima, só serve pra nortear e pontuar o que está na nossa cara todos os dias!

Moro atualmente no Rio de Janeiro e estou em vários projetos como ator/bailarino, outros como Coreógrafo, e mesmo com toda dificuldade e sendo novo aqui, me deixa triste perceber que o eixo Rio SP ainda proporciona uma estrutura melhor, um campo muito mais amplo e com possibilidades reais para os profissionais que atuam na área.

Pretendo um dia voltar para a minha cidade e acho que é minha obrigação como cidadão, mesmo que de longe, questionar e reivindicar a forma que é conduzida a arte em Pernambuco. Eu quero que mude e cabe a mim fazer algo pelo que acredito.

Sou um artista, e não vou abraçar o Maluf para aprovar meus projetos nem conseguir as minhas pautas!

Uso a minha arte pra questionar, promover reflexão e principalmente emocionar! 
Tenho deveres e não vou abrir mão dos meus direitos!
Acredito que esse seja um, entre tantos outros caminhos que a nossa classe pode e deve trilhar, para que de fato a mudança aconteça!

Se juntar, questionar e reivindicar!

Mesmo que seja dançando.

 
"Por um fio em lã"  -  Foto: Marcelo Lyra.


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8 comentários:

  1. Muito foda, Juan, espero que este assunto dê o que falar.

    Um grande abraço

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    1. Obrigado Shima!!

      O importante é a reflexão que é feita diante destas questões!

      Obrigado e tudo de bom!!

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  2. Você tem razão. Adiciono: quando se envia material para festivais daqui parece que esta pedindo favor, e que a coordenação dos festivais estão fazendo favor em convida-lo. O absurdo? É que eles ainda dizem que a cena pernambucana precisa de mudanças, rs.

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  3. Obrigado pelo comentário e seja sempre bem vindo por aqui!

    Hoje com essa postagem o site teve mais de 700 acessos.

    Bom saber que de alguma forma as pessoas são alcançadas!

    Grande abraço!

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  4. Um absurdo o que acontece nos dias de hoje. Um desrespeito ao artista, ao homem ao ser humano que apenas quer sensibilizar todos ao seu redor com a sua dança/música/cena/texto. Acima de tudo devemos nos respeitar e fazer uma profunda reflexão sobre a nossa postura diante de acontecimentos como esses,que são relatados por artistas que se empenham de uma forma única em seu trabalho. Transparecer a sua alma através de sua arte é a capacidade mais pura de um ser humano ,de um artista que enxerga o mundo através de um olhar crítico e sem as amarras que a sociedade nos impõe. Ele sabe transforma sonhos em realidade através de sua linguagem artística. Mas por inúmeras vezes , como nesse relato do artista Juan Guimarães, toda sua arte e seu empenho são desrespeitados por pessoas que não levam a sério o trabalho do próximo , que pensam estar acima de tudo e de todos. Esse relato me fez sentir vergonha de como nós artistas somos tratados.
    Temos que nos valorizar,respeitar a nossa arte.
    Como disse Juan Guimarães , “Uso a minha arte pra questionar, promover reflexão e principalmente emocionar! Tenho deveres e não vou abrir mão dos meus direitos!”, “Se juntar, questionar e reivindicar!”

    Juan Guimarães , respeito e admiro muito o seu trabalho. Sei de sua dedicação para com a arte,dos seus valores como pessoa e como profissional. Quero deixar claro aqui que, estarei sempre ao seu lado para “Se juntar,questionar e reivindicar”.

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  5. Juan, parabéns pelo texto! É esse o caminho mesmo, concordo contigo plenamente. E vamos à luta pra mudar essa realidade.

    Abraços.

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  6. Valeu querida!! grande beijo!!

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  7. Oi Juan Estava sem net... li agora seu "desabafo" e sei o que vc está sentindo, passei por algo parecido no Festival Internacional de 2011. Enviei meu material que não foi selecionado por que no momento eu só tinha fotos e um Teaser produzido pra divulgação, já que o solo estava em construção.Muito justo não ser aprovado, já que o material estava incompleto.Mandaram um e_mail exatamente igual ao de todos não selecionados. No dia da divulgação do material ,que tbm foi o dia da abertura do Festival Internacional, qual minha surpresa? A foto do meu trabalho , que não estava na ´programação estava em todo o material de divulgação do tal Festival, uma imagem vetorizada que era igual a do meu programa...indignação!!!!Tomei minhas providências e não quis me aborrecer no momento me acomodei mesmo, cansada de tantos acontecimentos.Um telefonema daria a autorização para o uso da minha imagem , mas nem isso!Até hoje espero uma resposta da Prefeitura de um acordo que fiz e já me arrependi completamente. Mas entendo vc completamente, e repenso esse momento pelo qual estamos passando que é reflexo de um passado viciado de ações repetitivas e sem evolução.Deixo aqui minha indignação contra a falta de respeito por Profissionais tão dignos como todos os outros. E uma pena que os filhos da terra tenham que se aventurar em terras estranhas para garantir o seu ganha pão e uma vida com um pouco mais de qualidade estrutura de trabalho!!!!!Bj no seu coração!!!Patrícia Pina Cruz

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