O grau
O tempo me faz buraco em noite
O que sinto é só o que tenho pra me cobrir
E o cobertor não é o que desejo nesse breu com paredes de
silêncio
A calma ecoa em minha cabeça
A besta
Tudo o que prende destrói
Tudo o que enraíza
Se torna forte e lindo
Mas não se deixa mover
0,72
Estourar tímpanos deveria ser algo divertido
Quero gargalhadas por não me escutar
Não quero o escuro que teima em ecoar
O amor
Teu
Sou amor
Dor
Amor
Na boca sinto o gosto da liberdade
O sangue quente e jovem
A cabeça velha e orgulhosa
A irresponsabilidade dos ventos
O gosto tênue de vida e morte num gole
E não adianta gritar
Só vão te responder na segunda depois das 9
Tanta bobagem pra tão pouco tempo
Tão efêmero e tão pretensioso
Na tua retina vejo o amanhã e mesmo cedo já sinto tanto
Sinto tanto por não ser
Ou ser tudo aquilo que eu não esperava
Olha criança
Agora é o dia
Agora tem gosto de sal
Gosto de noite no mar
Conseguia quando menino ver quem vinha
Agora só me resta sentir
0,72 pra quem tinha tudo claro e nítido faz toda a diferença
O velho me falou
Que quando ele descobriu o 0,72
O sal do mar na boca
Era o que mais ele sentia
O grau
Lindo é o dia em que
perco os óculos
Sinto o vento dizer pra onde ir
Sigo os graus do teu corpo
Descubro por entre tuas pernas que amanhã o dia vai ter 47
horas
E que talvez se abra o sol pela tarde
Olha criança
Olha pra dentro de mim e me diz o que teus dedos diriam
Me diz que vou acordar grávido de mim mesmo
E que desse mar vai vir um menino novo
Com vista boa
Cheio de nuvem na cabeça
E com um silencioso e escuro eco no pulsante que eles chamam
de despretensioso e triste
O sagrado
Atravessado
Flecha de um solitário sagitário
Nas mãos do pai
Minha oração
Nas tuas mãos
Coração.
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